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THE “BIBLE READERS” OF MADEIRA

Reverend Jorge Gameiro, Pastor of the Igreja Presbiteriana do Funchal

In October 1838, the Scottish medical missionary doctor Robert Reid Kalley arrives in Madeira with his young bride Margaret. Aware of the difficulty of the people at the time, he founds a hospital in Funchal, where he treats the poorest of the poor free of charge, and establishes 17 schools for over 2,500 adults and children, a truly remarkable effort. On 25 May 1841, the City of Funchal distinguishes him for his philanthropic efforts on behalf of the poor, sick and illiterate.

With the permission of Queen Maria II and at the request of Dr Kalley, 3,000 copies of the Portuguese translation of the Bible (published in London) were allowed into Madeira. The preaching and the study of Scripture and attract thousands, and throughout Madeira, entire families convert to Presbyterianism. They number about 5,000 people. 

But little by little, voices of discontent start to be heard, coming from many in Lisbon uncomfortable with the success of Kalley’s evangelistic work.  Old Inquisition laws are invoked, including the law of heresy of 1603 that would later condemn Dr Kalley to silence and later to prison.  It is in this hostile environment that 26 Madeirans were baptised, thus secretly founding the Presbyterian Church of Madeira on 8 May 1845, the first Protestant church on Portuguese soil.

On church doors, ecclesiastical authorities set about posting the sentences of excommunication of hundreds of people. Heard aloud in the streets: Let no one give them fire, water, bread or anything else that they may need. And let no one repay them what what they are owing them in debts. This means that the Protestants now find themselves reduced to total poverty. 

In the main towns of the island, bonfires are made to burn the Bibles in Portuguese, the very same that had aroused such enthusiasm on first direct contact with the Word of God. The personal property of the Kalley family and all his missionary work (schools and hospital) were reduced to ashes. On 9 August 1846, the Kalleys, fearing for their lives, leave the island on board the steamer Forth. 

In Santo António da Serra and in Lombo das Faias, the authorities raid believers’ houses. Soldiers and their accomplices plunder the goods of the peasants forced to flee into the mountains. Women and girls suffer indignities and men are severely beaten and imprisoned in old dungeons in degrading conditions. False witnesses are bribed to provide false testimonies against the Bible readers, and the accused are required to pay the expenses of their own trials and the time they are remanded in custody.


The persecuted and humiliated leave everything and flee in the dead of night to British ships anchored in the port of Funchal. Two thousand Madeiran Presbyterians are forced to leave their homeland and to live in exile in Trinidad, Great Britain, and then in the United States of America where they found churches in three cities, and later Hawai'i. More leave for Brazil, also starting new churches there. 

Among those who stayed, condemnation to a life in hiding did not lead to the obliteration of the Presbyterian movement in Madeira. The community survived with the support of the Church of Scotland and the British couple Mr and Mrs Payne, who so generously offered their home as a meeting place. 

Only from 1875, the Church of Madeira resurfaces, under the leadership of the Portuguese minister Rev. António de Matos coming from Illinois, and Pastors Drumond Patterson and George Smart. In 1933, the Evangelical Church of Portugal is founded, based in Funchal, uniting several congregations, Episcopal Methodist, Congregational, and Presbyterian, Madeira, Azores and the Mainland. 


Today, we are three communities of the Presbyterian Church of Madeira, where there are still descendants of the original families and where we remain in communion with those who have welcomed and honoured us: the Church of Scotland, the Free Church of Scotland, Church of Trinidad (Church of Scotland) (see the article by Rev Clifford Rawlins), the Presbyterian Church of the USA, Brazil’s Congregational Church, the Presbyterian Church of Hawai’i, and the Congregational Church of Angola. 

But our first shelter was Trinidad. We thank God and we thank you for your love.

(Translated by J.S. Ferreira)

“Os Leitores da Bíblia” da Madeira

(Original Version in Portuguese - Versão original em português)


Em Outubro de 1838 chega à Madeira o médico e missionário escocês Robert Reid Kalley. Consciente da dificuldade do povo, funda no Funchal, um hospital onde trata gratuitamente os mais pobres e cria dezassete escolas onde cobre um contingente de mais de duas mil e quinhentas pessoas entre crianças e adultos, levando a cabo um esforço verdadeiramente notável. A 25 de Maio de 1841, a Câmara Municipal do Funchal distingue-o pelos seus esforços filantrópicos em favor dos pobres, doentes e analfabetos. Com a autorização da rainha D. Maria II e por solicitação do Dr Kalley, circulam na ilha, três mil exemplares da tradução portuguesa da Bíblia editada em Londres.

A pregação e o estudo das Sagradas Escrituras atraem milhares de pessoas e por toda a Madeira famílias inteiras convertem-se à doutrina presbiteriana. Chegam-se a reunir perto de cinco mil pessoas.

Mas pouco a pouco começam a surgir vozes incomodadas com o êxito do trabalho de evangelização. São recuperadas velhas leis inquisitoriais nomeadamente a lei da heresia promulgada em 1603 que condenará o Dr Kalley ao silêncio e mais tarde â prisão. É já neste ambiente de hostilidade que a 8 de Maio de 1845 é fundada secretamente a Igreja Presbiteriana da Madeira, a primeira Igreja protestante em solo português. 

As autoridades eclesiásticas fazem publicar nas portas das igrejas, as sentenças de excomunhão de centenas de pessoas. Grita-se nas ruas: Que ninguém lhes dê lume, água, pão ou qualquer outra coisa que venham a necessitar. E que ninguém pague o que lhes deve. Este facto leva a que os protestantes se vejam reduzidos à miséria total.

Nos principais povoados da ilha fazem-se fogueiras onde ardem as bí­blias em Português que antes tanto entusiasmo tinham suscitado pelo contacto directo com a Palavra de Deus. Os bens pessoais da família Kalley e toda a sua obra missionária (escolas e hospital) foram reduzidos a cinzas. No dia 9 de Agosto de 1846, o casal Kalley, temendo pela vida, deixa a ilha a bordo do navio Forth.

As autoridades invadem as casas. Soldados e seus cúmplices, saqueiam os bens dos camponeses que fogem para as montanhas. Mulheres e raparigas sofrem indignidades e os homens são severamente espancados, sendo de seguida aprisionados nas velhas masmorras em condições degradantes. O acusado é obrigado a pagar as despesas do seu próprio julgamento e do tempo em que permanecer detido. 

Perseguidos e humilhados deixaram tudo e fugiram, pela calada da noite, para os navios britânicos ancorados no porto do Funchal.

Dois milhares de madeirenses presbiterianos vêm-se obrigados a abandonar a sua pátria e passam a viver a dor do exílio em Trindade e seguidamente nos Estados Unidos da América onde fundam Igrejas em três cidades. Mais tarde, alguns partem para o Brasil e Havai iniciando também novas Igrejas. 

A condenação à clandestinidade entre os que ficaram não levou ao esquecimento e ao desaparecimento do movimento presbiteriano da Madeira. Com o apoio da Igreja da Escócia e do casal britânico Payne, que de forma absolutamente generosa ofereciam a sua quinta como local de reunião, a comunidade sobreviveu. 

Apenas a partir de 1875, a Igreja da Madeira volta à luz do dia com o pastor português, Rev António de Matos, proveniente do Illinois.

Em 1833 é fundada a Igreja Evangélica de Portugal, com sede no Funchal e que agrega várias comunidades: Metodista Espiscopal, Congregacional e Presbiteriana, da Madeira, Açores e do Continente.

Hoje somos três comunidades da Igreja Presbiteriana da Madeira, onde ainda existem descendentes das primeiras famílias e onde todos nos sentimos em comunhão com quem nos soube receber e respeitar: Igreja da Escócia; Igreja Livre da Escócia; Igreja de Trindade (C.S) (veja o artigo escrito pelo Rev Clifford Rawlins); Igreja Presbiteriana USA; Igreja Congregacional do Brasil, Igreja Presbiteriana do Havai, Igreja Congregacional de Angola.


Mas, o primeiro porto de abrigo, foi Trindade. Agradecemos a Deus e ao vosso Amor.

© Jorge Gameiro, 2011

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